El Miedo

El Miedo

por Rogerio Paulo, Sao Paulo, Brasil

Pasado, pasé, presente

Pasó, pero quiere volver

El miedo es mi sombra

Que todavía quiere paralizarme

Ya no es como antes

Pude abrazar mi sombra

 

Una emoción necesaria

Para poder sobrevivir

Pero el miedo excesivo

También me enfermó

Una angustia tan intensa

Para que un niño viva con ella

 

Me trajo perturbación

En la infancia comenzó

Surgieron dudas

Mi confianza se tambaleó

En los modelos a seguir

Que me cuidaron tan bien

 

Ni siquiera podía imaginar

En todo lo que pasé

El dolor inimaginable

Que casi no podía soportar

Bromas inapropiadas

Somaticé el dolor y el trauma

 

Las fantasías y los miedos

Continuaron atormentándome

El mundo tan idealizado

Comenzó a desmoronarse

Los defectos del entorno

Era demasiado para mí

 

De los que amaba

Me distancié emocionalmente

Una persona desconfiada

Poco a poco me convertí

Era un niño indefenso

Pero me hice fuerte

 

Pronto la adolescencia llegó

Ya no podía jugar

Espontáneamente

Tenía miedo de expresarme

No confiaba en la gente

Ni siquiera en el contexto familiar

 

Me sentía inadecuado

No quería desagradar

Pero no era fácil

Tener que cautivar a todos

El miedo dentro de mí

No podía mostrarlo

 

De una manera muy sublime

Desapercibido

Me lo oculté

Porque no podía soportarlo

El miedo omnipresente

No quería quedarme en el pasado

 

Solo después de la edad adulta

Pude darme cuenta

La sombra me dominaba

Necesitaba reconocerla

Me causó un gran daño

Me dificultó crecer

 

Frustraciones y decepciones

Casi me quito la vida

Ya no podía hacerlo solo

Busqué un nuevo camino

Para lidiar con los traumas

Encontré la psicología

 

No fue un camino fácil

Recordando tanto dolor

Pero el proceso terapéutico

También ha sido liberador

He enfrentado mi miedo

Que me tenía cautivo

 

Busqué apoyo Red

Hablé con otros hombres

Reconocí mis dificultades

Encontré gran ayuda

Me di cuenta de que no estaba solo

Que pasó por lo que pasé

 

Me siento como un hijo amado

Tengo mucho cariño y gratitud

A los hombres que me escuchan

En mis días de oscuridad

También escucho su dolor

Vivo el presente con hermanos

 

Terapia, grupos y espiritualidad

Nuevos caminos a seguir

Ritos de Pasaje e Illuman

Fue fundamental ver

Donde aún vivía el miedo

Que podía cuidar de la sombra

 

Con mi ejemplo de vida

Ayudo a los hombres a continuar

Todo mi sufrimiento y dolor

Me ayudó a llegar aquí

Demostrando que es posible

Reformular todo en la vida

 

Hablar de mis miedos

Me ha ayudado a avanzar

A tener una vida sana

A ser auténtico y no callar

A vivir mi verdadero yo

A disfrutar de una vida madura

 

Puedo tener miedo de soñar

Puedo tener miedo de sufrir

Puedo tener miedo de arriesgarme

Puedo tener miedo de crecer

Puedo tener miedo de tener miedo

Pero no tengo miedo vivir.

 

La literatura de cordel, traída de Portugal a Brasil durante la época colonial, adquirió una forma propia en el noreste, convirtiéndose en un símbolo de la cultura popular. Con folletos colgados de cuerdas en los mercados, los versos rimados —en sexteto— abordan temas cotidianos, leyendas, dilemas y críticas sociales. Más que entretenimiento, el cordel educa, conmueve y resiste, dando voz al pueblo con un lenguaje accesible y sabiduría popular. Nacida en la zona rural de Ceará, doy vida a esta tradición narrando, en tono confesional, mi camino marcado por el miedo, el dolor y el crecimiento. Mis versos, aunque personales, abordan temas universales como la masculinidad, la espiritualidad y la transformación, reafirmando el cordel como un camino hacia la sanación, la identidad y la liberación.

Passado, passei, presente  

Passou, mas quer voltar  

O medo é minha sombra  

Que ainda quer me paralisar  

Não é mais como era antes  

Minha sombra pude abraçar  

 

Uma emoção necessária  

Para eu poder sobreviver  

Mais o medo em excesso  

Fez-me também adoecer  

Angústias tão intensas  

Para uma criança conviver  

 

Me trouxe perturbação  

Na infância começou  

As dúvidas emergiram  

Minha confiança abalou  

Nas figuras de referência  

Que tão bem de mim cuidou  

 

Não podia nem imaginar  

Em tudo que passei  

As dores inimagináveis  

Que quase não suportei  

Brincadeiras inapropriadas  

Dores e traumas somatizei  

 

As fantasias e os medos  

Continuavam me assombrar  

O mundo tão idealizado  

Começou a desmoronar  

As falhas no ambiente  

Foi demais pra eu suportar  

 

Daqueles que eu amava  

Emocionalmente me afastei  

Uma pessoa desconfiada  

Pouco a pouco me tornei  

Era uma criança indefesa  

Porém de forte me apresentei  

 

Adolescência logo chegou  

Não podia mais brincar  

De forma espontânea  

Tinha medo de me expressar  

Não confiava nas pessoas  

Nem no contexto familiar  

 

Me sentia inadequado  

Não queria desagradar  

Porém não era fácil  

Ter que a todos cativar  

O medo dentro de mim  

Não podia demonstrar  

 

De forma bem sublime  

imperceptível de notar  

Escondia de mim mesmo  

Pois não podia suportar  

O medo sempre presente  

No passado não quis ficar  

 

Só depois da vida adulta  

Que pude perceber  

A sombra me dominava  

Precisava reconhecer  

Me trazia grande danos  

Dificultava meu crescer  

 

Frustrações e decepções  

Quase minha vida tirei  

Não conseguia mais sozinho  

Um novo caminho eu busquei  

Para lidar com os traumas  

A psicologia eu encontrei 

 

Não foi um caminho fácil  

Lembrar te tanta dor  

Mas o processo terapêutico  

Tem sido também libertador  

Tenho encarado o meu medo  

Que tanto me aprisionou  

 

Busquei uma rede de apoio  

Com outros homens eu falei  

Reconheci minhas dificuldades  

Uma grande ajuda encontrei  

Percebi que não era único  

Que passou pelo que passei  

 

Me sinto um filho amado  

Tenho muito carinho e gratidão  

Aos homens que me escutam  

Nos meus dias de escuridão  

Escuto também suas dores  

Vivo o presente com irmãos  

 

Terapia, grupos e espiritualidade  

Novos caminhos a trilhar  

Ritos de passagem e Illuman  

Foi fundamental para enxergar  

Onde medo ainda habitava  

Que podia da sombra cuidar  

 

Com meu exemplo de vida  

Ajudo homens a continuar  

Todo meu sofrimento e dor  

Me ajudou até aqui chegar  

Mostrando que é possível  

Tudo na vida ressignificar  

 

Falar sobre os meus medos  

Tem me ajudado a caminhar  

A ter uma vida saudável  

Ser autêntico e não silenciar  

Viver meu verdadeiro eu  

Uma vida madura desfrutar  

 

Posso ter medo de sonhar  

Posso ter medo de sofrer  

Posso ter medo de arriscar  

Posso ter medo de crescer  

Posso ter medo de ter medo  

Mas não tenho medo de viver 

 

A literatura de cordel, trazida de Portugal para o Brasil no período colonial, ganhou forma própria no Nordeste, tornando-se símbolo da cultura popular. Com folhetos pendurados em cordas nas feiras, os versos rimados — em sextilhas — abordam temas do cotidiano, lendas, dilemas e críticas sociais. Mais que entretenimento, o cordel educa, emociona e resiste, dando voz ao povo com linguagem acessível e sabedoria popular. Nascido no interior do Ceará, trago essa tradição ao narrar, em tom confessional, minha trajetória marcada por medo, dor e amadurecimento. Meus versos, embora pessoais, tocam questões universais como masculinidade, espiritualidade e transformação, reafirmando o cordel como caminho de cura, identidade e libertação.